"Leva tempo até percebermos, por exemplo, que existe uma paz que não é a paz das coisas, mas sim uma harmonia interior que resulta de um comportamento correcto. E que é esse o género de paz que nos interessa; que não nos basta aquela paz que é feita somente de ausência de vento ou de guerra."
Esta história começa em 1945. Uma menina chamada Sadako Sasaki vivia na cidade japonesa de Hiroshima. Quando tinha 2 anos, lançaram sobre a sua cidade a primeira bomba atômica. Quase tudo foi destruído e arrasado pelo fogo. Sadako, que se encontrava a mais ou menos dois quilómetros do local da explosão, aparentemente nada sofreu. Poucas semanas depois, começaram a ocorrer mortes causadas por uma doença que nem os médicos entendiam. Pessoas que pareciam viver de plena saúde, subitamente sentiam-se fracas, caíam doentes e morriam. Aos 12 anos, Sadako era uma menina alegre, normal e frequentava uma escola do bairro. Estudava e brincava como as outras crianças, e uma das coisas de que mais gostava era correr. Um dia, depois de participar numa corrida de estafetas, em que ajudara a sua equipa a ganhar, sentiu-se muito cansada e teve tonturas. Achou que era um desgaste provocado pela corrida. Na semana seguinte, especialmente quando corria, as tonturas voltaram. Sadako não disse nada a ninguém, nem mesmo à sua melhor amiga, Chizuko. Certa manhã, sentiu-se tão mal que caiu e ficou estendida no chão. Já não podia esconder por mais tempo. Levaram-na para um hospital da Cruz Vermelha. Sadako estava com leucemia. Outras crianças de Hiroshima começaram a apresentar os mesmos sintomas de leucemia, então chamada "doença da bomba atômica".
Quase todos estavam a morrer e Sadako ficou assustada, pois não queria morrer. Chizuco foi visitá-la levando uma folha de papel, com a qual fez uma dobragem representando um grou. Chizuko contou a Sadako uma lenda: o grou, ave sagrada no Japão, vive mil anos, e se uma pessoa dobrar mil grous de papel, fica curada. Sadako resolveu fazer os mil grous. Lentamente ela dobrava os grous, apesar da leucemia que a enfraquecia. Ainda que não melhorasse, prosseguia e conseguiu terminar parte das mil aves de papel. Todos acompanhavam a sua determinação e paciência até que, em 25 de outubro de 1955, rodeada pela sua família, ela montou o seu último grou e dormiu placidamente pela última vez. Os seus amigos, nos quais deixou saudades, sentiram-se muito tristes por ela e pelas outras crianças e quiseram fazer alguma coisa. Assim, 39 dos seus colegas de turma resolveram formar um clube e angariar dinheiro para erigir um monumento em memória de Sadako e de todas as outras crianças. Alunos de 3100 escolas japonesas e de nove outros países fizeram doações.
Finalmente, em 5 de maio de 1958, conseguiram dinheiro suficiente para a construção do monumento, a que deram o mome de Monumento das Crianças à Paz, colocado no Parque da Paz, no centro de Hiroshima, exatamente onde havia caído a bomba. Esse esforço das crianças ficou tão popular que inspirou o filme “Os mil grous de papel”. As crianças de Hiroshima e Tóquio que participaram no filme resolveram ficar amigas e fundaram o Clube dos Mil Grous de Papel. Nada, porém, resume melhor o significado dos grous e do Clube do que as palavras gravadas no pedestal do Monumento das Crianças à Paz:
“este é o nosso grito esta é a nossa prece construir a paz no mundo que é nosso.”